CAPÍTULO I


Moçambique 1953/71.

                                                                 
                                                                       Eu com 6 anos de idade

Emigrei para Moçambique, Lourenço Marques (Maputo) com a minha mãe, em 1953, tinta eu cinco anos de idade, para nos juntarmos ao meu pai, que já estava no Dingue, no Distrito de Maputo a 24 Km da Moamba, localidade que se situa apenas a 75Km da capital por linha férrea ( linha do Limpopo), o qual desempenhava a função de encarregado de uma serração de madeiras nobres da zona. No Dingue, aprendi o dialecto local " Landim" com os " Mufanas" , crianças negras que ali habitavam e, foram eles os meus primeiros amigos de infância em África.
 Eu ao centro, com 10 anos de idade, o meu irmão Álvaro Dino com 4 anos
e os meus pais, Ilda e Manuel Morgado em 1958, junto ao apeadeiro do Dingue.
                                        Ao fundo vê-se a Cantina.

Esta localidade, tinha um apeadeiro dos caminhos de ferro , o qual se situava a 8 km do rio Incomati / Sabié . Os meus pais mantiveram-se no Dingue até 1974, depois do encerramento da serração em finais dos anos cinquenta ,com o negócio comercial de uma Cantina e criação de gado, tendo perdido tudo o que tinham e que trabalharam durante 22 anos naquela terra ,( por saques após o 25 de Abril de 1974 ), onde o meu pai e todos nós eram-mos considerados . Apesar do meu pai ser muito conhecido e respeitado pelos indígenas locais, que  até o chamavam de " Régulo Branco" , com quem muitos se aconselhavam, no tempo em que muitos filhos da terra, iam para as minas de ouro e diamantes da Rep. da África do Sul, como Magaízas.

Os Magaízas regressavam passados dois a quatro anos, às suas terras natais do Dingue e outras, mas, alguns faleciam passados poucos anos e ainda jovens, com doenças pulmonares, por não terem tido os cuidados médicos necessários, nem antes ou depois de serem Magaízas, apesar de terem passado por um rigoroso teste médico, em Ressano Garcia/Komatiport , fronteira Moçambicana com a África do Sul, para serem admitidos como Magaízas e virem a trabalhar como mineiros. Era condição fundamental para ser Magaíza, ser jovem, forte e de boa saúde, para poderem suportar a difícil tarefa que iam encontrar pela frente, que era a de irem trabalhar nas minas a grandes profundidades, com elevadas temperaturas e humidade, aliada à inalação constante de gases perigosos à sua saúde, dada as condições de trabalho serem precárias,  com a deficiente  ventilação das zonas de trabalho e túneis de acesso.
Mas todos aqueles jovens que se tornavam mineiros ou Magaízas, não sabiam o que iam encontrar pela frente. Apenas sabiam que iam ser mineiros.

Tudo o que aqui relato, foi-me contado por vários Magaízas, quando regressavam ao Dingue de comboio, vindos das minas de "Orange Free State ou do Tranvaal" , na Rep. da África do sul e, por amigos influentes, tanto brancos como negros, que contestavam em silêncio como eu, esta situação desumana.

Se Portugal em 1974 foi classificado como o 14º país do mundo com uma grande reserva de barras de ouro puro de vinte e quatro quilates no Banco de Portugal, foi graças aos Magaizas e à política de então e da Companhia de Moçambique, que era controlada por Lisboa, a qual recebia uma comissão , por cada Magaíza que mandasse para as minas da República da África do Sul, na altura governada por brancos e com o vergonhoso regime de separatismo racial, chamado de Apartheid.

Mas, nunca ninguém falou neste assunto político. Ainda à pouco tempo, foi mencionado num telejornal de Lisboa, que Portugal tinha uma grande reserva de barras de ouro no Banco de Portugal, por causa da venda de volfrâmio no tempo das guerras mundiais. Pode ter acontecido de facto  que Portugal tenha vendido algum volfrâmio por troca de barras de ouro mas, isso não me convence. O que eu sei dos Magaízas, do seu sofrimento e do ouro que entrava em Moçambique , o qual vinha para Portugal , primeiro por barco e depois de avião, é algo de concreto, não porque lesse nos jornais, porque nada era publicado naquele tempo, mas sim porque sabia de facto através de amigos e dos próprios Magaizas , como já disse.
O último transporte de ouro que  teve lugar , de (L.Marques) - Maputo para Lisboa , no ano de 1974, foi efetuado num avião Boeing da DETA - Transportes Aéreos de Moçambique de então, pilotado pelo pai de um amigo meu de infância o qual era europeu nascido em  Moçambique.

Esse estatuto de ser o ” Régulo Branco”, foi adquirido naturalmente pelo meu pai, durante os 22 anos que viveu e trabalhou naquela terra, pela forma como interagia com a população indígena local. Apesar de tudo isto, esse estatuto adquirido ao longo dos anos, de nada lhe valeu e à minha mãe também.

Meus pais em 1974
       
Estudei em L.Marques ( Maputo) , tendo frequentado a Escola Primária João Belo na Malhangalene, hoje Escola 7 de Setembro e, a Escola Industrial até 1967 e secção preparatória, para o Instituto Industrial. Nas férias escolares, as mesmas eram passadas sempre no Dingue.

Morava na Rua da Guarda - Malhangalene em LM ( Maputo) . Em 1964, tinha eu 16 anos de idade, frequentando a Escola Industrial , fui certo dia com o meu vizinho e amigo Carlos Alberto, ( mais velho uns dois anos que eu, o qual na altura era baterista do conjunto musical, hoje denominado de banda, " The Nigth Stars", conjunto muito conhecido na altura), ver  o que ele fazia em parte-time Tam-Tam publicidade, a qual ficava ali tão perto, numa rua perpendicular à minha, a rua de Coimbra.

O Carlos fazia sonoplastia nas Produções Somar de A.J.Courinha Ramos, a qual se dividia na altura em duas actividades distintas: A Rádio e publicidade, com a Tam-Tam Publicidade , a qual detinha uma hora no Rádio Clube de Moçambique, com o programa radiofónico " A Onda da Manhã " , tendo estúdios próprios de gravação e, a Somar Filmes que produzia o Cine-Jornal de atualidades Visor Moçambicano, o qual tinha uma duração de 10 minutos, e era exibido nos Cinemas de Moçambique, antes da exibição do filme em cartaz.
 Eu com 16 anos, quando fui pela primeira vez à Somar Filmes

Nos anos cinquenta, o Courinha Ramos iniciara-se apenas na Rádio, já que ele em jovem frequentara até ao segundo ano, a faculdade de electrotécnica  em Lisboa. No seu início na rádio fundou as "Produções Onda" e, mais tarde, ainda nos anos cinquenta, iniciou-se no Cinema com uma máquina de filmar de 16 mm e a seguir , adquiriu na Rep.da África do Sul, uma Arriflex de 35mm e, assim nasceu o Visor Moçambicano, sendo na altura, revelando montando e sonorizando nos Laboratórios da Killarney  Films da Rep. da  África do Sul, levando sempre consigo o  António Luís Rafael, ( na altura locutor no Rádio Clube de Moçambique), seu  locutor de serviço e que esteve sempre ao lado do Courinha Ramos, no início  das suas "aventuras cinematográficas" dos anos cinquenta.

Mas, depois da minha primeira visita à Somar filmes, comecei a frequentar aqueles rudimentares estúdios de cinema, quase todos os dias. Como resultado, comecei a trabalhar nas Produções Somar em 1964 no departamento de Cinema , em parte - time , mas, continuando a estudar na Escola Industrial.

Apaixonei-me totalmente pelo cinema, tendo sido como uma "droga pesada" que entrara na minha vida na altura. Aprendi a fazer sonorização para a rádio com o Carlos Alberto, o qual ainda hoje em 2010 é músico , com outros amigos meus , no Casino da Figueira da Foz. Por outro lado, o meu padrinho de casamento e saudoso amigo Courinha Ramos, deu-me a oportunidade de aprender cinema sem limites, mesmo no início com prejuízo para a Somar Filmes, quando ainda estávamos no tempo do filme celuloide.

 O Courinha Ramos era assim mesmo. Quando sentia que alguém gostava de cinema ou de rádio, como eu, dava todas as oportunidades sem olhar a meios. O Courinha Ramos , poderia ter muitos defeitos e muitos o acusaram de vários, sem faltarem de todo à verdade, mas, era um homem que não dava valor ao dinheiro mas sim ao trabalho, principalmente na vertente cinematográfica.
Um dos seus "defeitos" era nunca falar de si próprio e dos seus feitos em cinema ou mesmo da sua vida. A cima de tudo, acompanhava-o sempre o seu charuto e cachimbo, além de se sentar em frente de uma mesa, numa total confusão , como eu sempre vi, a desmanchar uma Arriflex e consertá-la, tanto no especto mecânico como eléctrico, deixando cair pelo chão a cinza do seu charuto ou cachimbo. Era assim o Courinha.

Naquele estúdio da Rua de Coimbra, existia uma máquina de revelar filmes de 35 mm a Preto e Branco artesanal, feita com uns tanques improvisados, salvo erro em aço inox e, a tracção, era feita através por um motor eléctrico, com um desmultiplicador de velocidade, carretos para 35 mm e correntes de bicicleta. A secagem do filme depois de revelado, em negativo ou positivo, era feita pela passagem do filme por um pequeno túnel de secagem, feito com resistências e à temperatura correta para a secagem do celuloide.
De cada lado da máquina havia dois carreteis para filme de 35 mm. Do lado esquerdo para o filme em imagem latente e por revelar, e do lado direito para o filme revelado e seco.

Esta máquina incrível, demonstrava aqui a improvisação e a imaginação que era preciso ter, para iniciar o cinema em Moçambique.

O Courinha Ramos que conheci, apesar dos seus defeitos, era o meu ídolo no cinema e, a ele devo muito sobre o que hoje sei, mesmo até na aprendizagem no conserto das Arriflex e não só, apesar das nossas divergências ideológicas, sempre discutidas num bom ambiente, com um sorriso nos lábios da parte do Courinha.

A seguir a ser finalista da Escola Industrial em 1965/66 , até Maio de 1968 trabalhei a tempo inteiro na Somar Filmes, fazendo montagem de negativo, sonoplastia para os Visores Moçambicanos e operador de câmara, com as velhas Arriflex de 35mm, tendo passado a estudar à noite, para admissão ao Instituto Industrial, para o curso de Agente Técnico de Engenharia, na área de C. Civil e Minas.
Tinha decidido ser o cinema a minha profissão futura e , com esta decisão , depois de refletir muito, achei ser o cinema a minha Vocação , em prejuízo dos estudos.

Certo dia em 1964, estando eu na Somar Filmes, conheci o Luiz Beja, que estava a montar a sua empresa denominada Beja Filmes, quando este visitava a Somar Filmes, para falar com o Courinha Ramos e trocar algumas impressões .A partir desse dia, eu e o Luiz passámos a ser amigos .

Salvo erro em 1967, o Luiz Beja realizava um filme publicitário a cores, em filme de 35 mm com a duração de um minuto, para exibição nos cinemas de Moçambique, único meio de divulgação de trabalhos do género , o qual divulgava uma marca de cigarros da Fábrica Moçambicana Velosa, tendo sido o local de filmagem, a piscina do Hotel Cardoso. Colaborei nesse publicitário, fazendo de tudo o que era necessário à produção, porque eu estava numa fase de ter "sede" de aprender tudo em cinema.

Entretanto, em 1966 não me apresentei à inspeção militar em Moçambique, estando já na situação de faltoso ou refratário, dado que o serviço militar naquele tempo era obrigatório.

A verdade é que não estava com grande vontade de ingressar no serviço militar e pegar numa arma de guerra, para combater em Moçambique.

Certo dia em 1967, comentei o assunto militar que me atormentava com o Luiz Beja. Foi quando o Luiz me disse que em Lisboa havia um curso de fotografia e cinema, nos SCE-Serviços Cartográficos do Exército e, segundo ele, eu tinha todas as condições para ingressar nesse curso de foto-cine do exército.
Quando o Luiz disse que o curso era em Lisboa, que eu nem conhecia, a sua ideia não passava de uma "missão impossível" para mim, o facto de ter de ir para Lisboa.

Mas o Luiz insistiu, dizendo que o seu pai, o Major Beja, era amigo do Major Baptista Rosa, que na altura era o Comandante e Diretor dos SCE e, também, Diretor e um dos fundadores da revista "A Plateia", a qual infelizmente encerrou em meados dos anos oitenta.

A minha mente ia ficando iluminada com as palavras e determinação do Luiz , sobre a hipótese de eu ir para Lisboa frequentar o curso ou especialidade 

Viagem Para Lisboa - Serviço Militar SCE

De seguida o Luiz falou com o seu pai e, trataram de tudo telefonicamente com o Major Baptista Rosa em Lisboa . Em Junho de 1968, estava eu dentro de um Boeing 707 da TAP com rumo a Lisboa, tendo feito escala em Luanda, onde conheci o conjunto Duo Ouro Negro , que tomaram o mesmo avião, Duo este muito conhecido do público na altura , tanto em Portugal como nas colónias , França e outros países estrangeiros.

Conheci assim o Raul Indipwo e o Milo Macmahon , dos quais fiquei amigo até ambos nos deixarem após falecerem. Fui mais próximo do Raul , tendo ele sido visita assídua da minha casa em Oeiras , desde quando cheguei a Lisboa em 1976 , tendo eu sido também visita da sua casa em Alcabideche . Tive o privilégio de conhecer o Walter , primo do Raul , que também morava em Oeiras.

(Em 1981, fiz um filme publicitário para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através da JM- Publicidade, o qual carecia de um pelicano. Filmei com o pelicano do Raul que este cedeu para as filmagens).

Em 1968 já em Lisboa, apresentei-me ao serviço militar, como faltoso ou refratário em Setúbal no mês de Julho , (dois anos depois da data devida), estando o meu processo militar na altura em Lourenço Marques (Maputo). Foi uma grande confusão e difícil de resolver porque, eu faltara à inspeção em Moçambique em 1966. Mas, tudo se resolveu, provavelmente com a intervenção do major Baptista Rosa, o qual organizara a minha vinda e colocação no curso ou especialidade de Foto-Cine dos SCE, após a recruta e especialidade de atirador.
 Fernando Brum Morgado, na recruta em Lisboa em 1968.
                                     
Apesar de tudo , fiquei satisfeito por trocar uma arma de guerra por uma máquina de filmar ou fotografar, no serviço militar que tinha de cumprir, graças ao meu saudoso amigo Luiz Beja.

Não posso esquecer que o Luíz Beja , que fora o grande impulsionador para que eu fosse o primeiro residente em Moçambique e na África Colonial Portuguesa de então, a ir para Lisboa frequentar o único Curso de Fotografia e Cinema que na altura existia em Portugal , nos Serviços Cartográficos do Exército (SCE), por onde passaram grandes cineastas portugueses da actualidade, sendo um deles , o conhecido Realizador Lauro António.
Por tudo isto, não posso deixar de agradecer ao Luiz Beja, apesar de já não estar entre nós mas, tenho a certeza que, quer onde ele esteja, seja numa quarta dimensão da vida humana ou outra, ele saberá o sentido destas minhas palavras e desta minha homenagem que presto à sua pessoa , a Título Póstumo, pela amizade e interesse que sempre demonstrou ter por mim desde 1964 .
Porém , o Luiz Beja contribuiu para que eu , com o curso ou especialidade de Foto-Cine dos SCE e, posteriormente com a prática adquirida como foto-cine do exército, durante dois anos em Cabo Delgado e Planalto dos Macondes em Moçambique , viesse assim ampliar e valorizar os meus conhecimentos de cinema.

  Eu no Jardim Botânico -Lisboa 1969
                                       
Fiz a especialidade de Foto-Cine nos Serviços Cartográficos do Exército, então ao Príncipe Real em Lisboa no ano de 1969, depois de ter efectuado em fins de 1968, a recruta e a especialidade de atirador, no actual quartel de comandos da Amadora, especialidade essa adaptada à missão de Foto-Cine, a qual era ser um repórter de Guerra, na guerra Colonial de então, com a missão de fazer o registo cinematográfico em filme de 16 mm a PB , através de uma Paillard Bolex e, em fotografia com uma Yashica Reflex 6x6, dos acontecimentos militares importantes e de Guerra, naquela Guerra que muitos de nós a contestávamos em silêncio, dada a conjuntura política de então. Tive treino militar de 6 meses, apesar das minhas armas no exército, virem a ser as máquinas de filmar e fotografar.
Já não me recordo o nome de todos os colegas do meu curso, mas recordo-me bem do Cândido Mota, então e hoje locutor de Rádio e actor , conhecido do público português em geral e, do Pedro Costa, hoje Realizador de longas metragens.


Cândido Mota
                                                                                                                                                   
Pedro Costa

O Cândido Mota foi o primeiro classificado no Curso e eu o segundo.
Até ao terceiro classificado na especialidade de Foto-Cine, não se era mobilizado para as Colónias. Os três Foto-Cines de cada curso ou especialidade, ficavam em Lisboa nos SCE a fim de assegurarem a pós-produção dos trabalhos efectuados pelos colegas mobilizados e em serviço nas colónias. Como eu não seria mobilizado e querendo voltar a Moçambique, tive de trocar com um colega, assumindo ele a minha posição e eu a dele. Como é de prever, esse colega que trocou comigo ficou radiante, tendo-lhe acontecido na altura e em 1969, algo de muito importante na sua vida e inesperado, que era o facto de não ser mobilizado para as colónias.

Viagem no Navio Niassa, Para o Porto de Nacala em Moçambique.

Terminada a especialidade ou especialidade de Foto-Cine nos SCE, voltei a Moçambique inserido no destacamento de Foto-Cine 2162/69 , a bordo do navio Niassa.

A Bordo do Navio Niassa. Eu ao centro de dois colegas foto-cines.
                                  
 Crachá de Foto-Cine, dos SCE em 1969
                                                                       
O primeiro porto que atracámos foi o de Lourenço Marques ( Maputo) , onde pude estar com os meus pais e irmão . Seguidamente rumámos ao porto de Nacala, onde desembarcamos por fim, seguindo depois por terra até Nampula, cidade de comando das forças armadas e dos destacamentos foto-cines em Moçambique.


Porto de Nacala em 1969. Imagem de FBM

Em Nampula, no comando foto-cine, fui destacado para Porto Amélia (hoje Pemba), capital do distrito de Cabo Delgado.

Nampula em 1969

Fui colocado no Batalhão de Caçadores Nº14 em Porto Amélia, mas dependendo do Comando Sector B local e de Nampula, onde estava o comando geral do destacamento Foto-Cine, sob a chefia do Alferes miliciano Foto-Cine Carlos ?? .
                                         

Batalhão de Caçadores 14, PA-Pemba, em 1969
                                
 Avenida da baixa de PA-Pemba, em 1970. Imagem de FBM

Nascer do Sol.Vista do Paquitequete PA-PEMBA 1970.
(Imagem de Fernando Brum Morgado)

Fiz missões em Cabo Delgado, em zonas de guerra  como Foto-cine , tais como projectar filmes para as tropas aquarteladas no mato de Cabo Delgado , em situação de Guerra.
Efectuei também reportagens de fotografia e em filme a PB de 16 mm, para os SCE , por zonas tais como: Nangololo, Macomia, Álamo, Mueda , Diaca, Namialo, Mocimbua da Praia, Montepuez, Ilha do Ibo e muitas outras.

  Tropas em convívio, no Planalto dos Macondes em 1970. Imagem de FBM
                                          
Populações Macondes em ritmos locais. Planalto dos Macondes 1970
                                  
A Guerra - Operação NÓ-GÓRDIO em  Mueda, Planalto Dos Macondes, Moçam
bique.

Em Julho de 1970, participei na operação Nó-gordio, como repórter de Guerra, para o destacamento Foto-cine do exército, tendo sido transferido para Mueda e integrado posteriormente na 1ª Companhia de comandos, Grupo A, comandada então pelo Capitão Carlos Matos Gomes ( hoje Coronel na reserva), que iriam tomar a Base Ngungunhane no Planalto dos Macondes.

Eu em Mueda 1970

Quando fui apresentado ao comandante do Grupo A dessa companhia, onde fora inserido para fazer a reportagem da tomada da Base Ngungunhane, Capitão Carlos Matos Gomes, fiquei um tanto perplexo. Nunca pensei que o comandante daquele Grupo A da 1ªcompanhia de Comandos, tivesse apenas 24 anos de idade, segundo me disseram passado uns quinze minutos. Eu tinha vinte e dois anos e meio naquela altura.

Pensava que o Comandante com a patente de Capitão e a comandar aquele Grupo A da 1ªcompanhia de Comandos, numa missão tão arriscada, fosse um militar mais velho e com mais experiência.

O Capitão Carlos Matos Gomes, não me deu muita atenção, aquando da apresentação. Apenas me disse que eu era bem vindo e desejou-me sorte para a missão. Vi-me na presença de um homem alto, com boa constituição física, bem parecido mas de poucas palavras , concentrado que estava naquela missão.

Estava eu ainda concentrado na figura do Capitão Matos Gomes, quando alguns militares daquele Grupo A, diziam-me baixinho - " não tenhas receio... ele tem muita experiência.... já fez uma missão na Guiné e outra em Angola ".

Aceitei as palavras de conforto que me davam .

Coronel Carlos Matos Gomes na reserva, em 2010
Ex-Capitão em 1970 do Grupo A, da 1ª Comp. de Comandos
Missão: Tomada da Base Ngungunhane- Planalto dos Macondes
Operação Nó-Gordio
Coronel Carlos Matos Gomes, na RTP no programa de Joaquim Furtado " A Guerra", Episódio nº 20.
                                                                          
Mueda era o centro da operação Nó-Gordio em Cabo Delgado em 1970, tanto do Exército como da Força Aérea , na altura equipada com os caças Fiat G91 e, por último , também da Marinha que patrulhava os principais Rios da zona. A Norte o Rio Rovuma , o qual faz fronteira com a Tanzânia e a Sul o Rio Lúrio.

Fiat G91 , na Base Aérea de Mueda

Não me posso esquecer que em Mueda, estive com um bom amigo inesquecível, o Furriel Foto-cine NUNES, o qual nunca mais o vi , já lá vão 41 anos.

Eu e o Nunes num acampamento civil em Mueda, em 1970, antes da operação Nó-Gordio.
                                           
Apenas tenho esta fotografia acima, com ele em Mueda. Estava o Nunes com uma farta barba negra. O Nunes devia estar a dar-me lições de política, creio eu.

Muitos de nós Portugueses, em Portugal ou em África, dado o regime, éramos uns "analfabetos" em política, mas o NUNES, ( um homem de esquerda e naquele tempo era difícil sê-lo), era uma verdadeira enciclopédia política.
Hoje vergo-me aos conhecimentos políticos que ele tinha naquele tempo.

Esta guerra segundo me apercebi, era na proporção de 2 ou 4 guerrilheiros para 100 soldados portugueses. Portanto concluí que, mesmo sem experiência em tátitas de guerra, não seria necessário aquele aparato militar da operação Nó-Gordio, com 8.000 militares destacados, mais apropriado para um tipo de guerra convencional. Por tal facto, talvez um quarto dos militares chamados à operação Nó-Gordio, seriam suficientes para aquela guerra de guerrilha, desde que fossem militares com a especialidade de Comandos e com experiência para combaterem numa guerra de guerrilha.

Quanto a mim, e por aquilo que vi e senti, apercebi-me que, uma guerra de guerrilha só pode ser combatida com o mesmo  sistema de guerra utilizada pelo inimigo.
Hoje e refletindo bem, penso que nos moldes em que o General Kaúlza planeou aquela operação contra um sistema de guerrilha aplicado pela Frelimo, nunca os militares portugueses poderiam ganhar aquela guerra de guerrilha que, pelas condicionantes do terreno se tornava numa tarefa difícil para estes, mas, favorável aos guerrilheiros conhecedores do terreno. No entanto, concluo hoje também que, aquela guerra de guerrilha, dificilmente seria ganha pela Frelimo ou pelo exército Português. Quaisquer das  hipóteses eram quase impossíveis de virem a acontecer.

Só uma independência negociada, como se verificou atempadamente entre o Reino Unido e as suas colónias em África, ou uma revolução como a de Abril de 1974 em Portugal, poderia pôr termo àquela Guerra de guerrilha em Moçambique.

Mas, sem dúvida que a operação Nó- Gordio , mesmo com todos os condicionalismos apontados, desestabilizou a organização tácita da Frelimo . Essa foi uma realidade, a qual foi aceite e hoje comentada pelos próprios comandos de guerrilha da Frelimo.

 Mapa do cerco às Bases da Frelimo e a posição de Mueda, Chonguera , Nangololo e a Base Ngungunhane

Parti de Chonguera , para a tomada da Base Ngungunhane, integrado na 1ª companhia de comandos grupo A , comandada pelo então jovem Capitão Carlos Matos Gomes, a fim de fazer a reportagem filmada e fotografada do acontecimento.
Eu numa picada , em progressão em coluna, em direcção à Base Ngungunhane, no dia 6 de Julho de 1970. Na mão uma câmara de filmar de 16 mm Paillard Bolex e,
integrado no Grupo A da 1ª Comp.de Comandos.
                               
O perigo das picadas era a existência oculta de minas anti-carro ou anti-pessoal. Para acautelamento , na nossa dianteira seguia sempre uma equipa militar especializada na deteção de minas e armadilhas.
Infelizmente, logo no primeiro dia de progressão, fomos atacados numa emboscada em pleno dia com morteiros, os quais surgiam de várias direcções. O Grupo A ripostou ao ataque. Felizmente não houve feridos, mas ali se verificou e confirmou que poucos guerrilheiros podiam enfrentar um Grupo ou uma companhia de militares portugueses sem estes os verem. O pior é que os guerrilheiros sabiam sempre a localização exacta dos militares portugueses, seguindo-os de perto ocultando-se nos pontos mais altos , com maior densidade de arvoredo.

     Eu, fazendo reportagem em filme de 16mm, num Unimog, para o Destacamento Foto-cine SCE,
no dia 7 de Julho de 1970, antes da descoberta da Base Ngungunhane
                                             
Nesse mesmo dia à noite, fomos novamente atacados por morteiros, estando o Grupo A de Comandos e eu , em descanso numa encosta totalmente às escuras. Repetindo-se o mesmo que se tinha passado durante o dia, numa luta desigual, onde se continuava a não ver os guerrilheiros.
                               
 Eu em descanso , antes da entrada na Base Ngungunhane
                                                 
O Comandante, Capitão Carlos Matos Gomes , apesar dos seus 24 anos de idade, inteligentemente deu ordem para que os seus homens não ripostassem aos ataques pois, iriam assim certamente fornecer a nossa localização noturna mais exata ao inimigo.
Tivemos sorte de nenhum morteiro cair sobre a nossa posição.

No dia seguinte a companhia descobriu a base Ngungunhane.

Operação Nó-Górdio. Base Ngungunhane em 7 de Julho de 1970.

Resumo de imagens captadas por Fernando Brum Morgado para
os SCE apresentadas na produção de Joaquim Furtado , 20º Episódio,
para a RTP em 2010, denominada "A Guerra ".

LINK : Resumo da tomada da base Ngungunhane, em 7 de Julho de 1970.
              Edição de F. Brum Morgado.

https://www.youtube.com/watch?v=NokIdmGJY3M&list=UUR40dHPx8W8uLMtr_6A2WHA


Entrada na Base Ngungunhane, em 7 de Julho de 1971. Imagem de F.Brum M.
                                     
Foi no dia 7 de Julho de 1970 , que o Grupo A da 1ª Companhia de Comandos, descobriu e entrou na Base , a qual estava vazia como se previa , ( a Frelimo sabendo desta operação, evacuou as suas Bases) e, o Grupo A de comandos fez de imediato o reconhecimento da mesma, tomando-a por completo.
Sem dúvida que era difícil encontrar aquela Base . A mesma encontrava-se ocultada pelo denso arvoredo da mata, o que a tornava totalmente camuflada. Já dentro da Base, verifiquei que a luminosidade não era a mais adequada para o meu trabalho.

Havia valas e grutas de esconderijo feitas pelos guerrilheiros por toda a base, as quais mais tarde foram muito úteis aos militares daquele Grupo A de Comandos e a mim próprio.
Foi encontrado muito armamento escondido , publicidade, máquinas de escrever, etc e, palhotas em colmo e caniço bem construídas. A palhota onde provavelmente seria a secretaria daquela Base Ngungunhane , tinha um tipo de construção e arquitetura que eu nunca tinha visto até então .

Palhota - Secretaria da Base Ngungunhane(Imagem de F. Brum Morgado)
                                                             
Na base Ngungunhane, foi onde se encontrou o maior arsenal de armamento
escondido pelos guerrilheiros da Frelimo (imagem de F.Brum Morgado)
                                               
Fiz a filmagem da tomada da base e tirei fotografias de todo aquele acontecimento, o qual ficou devidamente documentado e registado para os SCE, no 7 de Julho de 1970.

 Base Ngungunhane 1971. Destruição de palhotas com fogo

Todas as fotografias da minha pessoa, foram tiradas com uma Câmara  Reflex de 35 mm, da marca " Petri" por militares do Grupo A. O meu obrigado mais uma vez, a esses militares que me tiraram fotografias a meu pedido.

Logo após o Grupo A de comandos ter tomado a Base Ngungunhane, pensei para comigo que era anormal o silêncio dos guerrilheiros. Se nos atacaram duas vezes no dia anterior, porque não atacavam naquele momento ? quando uma grande parte do Grupo de comandos estava dentro da Base?.

Por isso deduzi que, não seria boa ideia ficar dentro da Base à noite. Pensei naquele momento que, certamente o inimigo já tinha os seus morteiros apontados à mesma de forma precisa . No entanto e mesmo assim, já tinha colocado todo o meu equipamento numa das grutas que existia na Base, na qual iria pernoitar.

O Sol já tinha desaparecido no horizonte, o qual não se via, porque a densidade do arvoredo não o permitia , facto que escurecia a Base mais rapidamente , tirando-lhe a pouca luminosidade que restava.

Estava eu fora da gruta por mim escolhida , encontrando-me afastado alguns metros daquela , quando começaram a cair morteiros por toda a Base, num ataque que eu horas antes tinha equacionado poder vir a acontecer.
Era de prever (repito) que, ao encontrarmos uma base desocupada, o inimigo estivesse à espera dos militares portugueses, já com os seus morteiros rigorosamente apontados para a mesma. Pensar o contrário era chamar de ignorante ao comandante da base Amândio Chongo. Foram alguns militares incluindo eu, feridos com o ataque de morteiros, o quais me recordo e depois confirmaram-me, nunca falharam o alvo que era a Base. Foram 14 os feridos nesse dia mas, não se verificaram mortes felizmente. 
                                                   
                                 Amândio Chongo, comandante dos guerrilheiros da Frelimo,                            
   na Base Ngungunhane em 1970, em declarações ao programa
   " A Guerra" de Joaquim Furtado, para a RTP.
                                                       
Durante o ataque de morteiros e quase às escuras, eu deitei-me no chão, logo a seguir à explosão do primeiro morteiro.

À minha frente aí a uns 10 m estava uma vala com militares, os quais começaram a chamar-me. Entretanto, eu aguardava pela melhor oportunidade. Em vez de ir para a vala a rastejar, o que demorava mais tempo, optei por me levantar e em posição baixa, chegar junto da vala e entrar na mesma.

Infelizmente, mesmo no momento em que me levantava, explodiu a poucos metros da minha posição, um morteiro. A minha sorte é que o mesmo , rebentou no pé de uma Árvore de bom diâmetro, precisamente do lado oposto à minha posição. Mesmo assim, apesar da sorte do tronco da árvore ter ocultado parte da explosão e estilhaços, mesmo assim fui atingido ainda por alguns daqueles , felizmente pequenos, um dos quais me partiu o dedo mindinho da mão esquerda, outros três alojaram-se nas costelas  e osso do antebraço direito, com o tamanho de um bago de arroz. Outros ainda, do tamanho de grãos de areia, alojaram-se pelas nádegas.

Ainda hoje aqueles estilhaços encontram-se alojados no meu corpo. Passados agora tantos anos, por vezes tenho dores na zona das costelas, lado esquerdo, onde se encontra cravado nas mesmas, um pequeno estilhaço.
O rebentamento do morteiro tão perto, originou que me afetasse até hoje a audição no meu ouvido direito.

Felizmente não faleci naquele instante, graças àquele tronco de árvore........Bendita árvore !!!

Na Base houve resposta aos ataques dos guerrilheiros, também com morteiros.

Após o rebentamento do morteiro junto à minha posição, continuei a correr até à vala (já ferido) e, já dentro daquela ,segundo me contaram, sempre com morteiros a explodirem no interior da base, desmaiei. Não me recordo de mais nada.

Acordei no dia seguinte dentro de uma gruta, cheio de ligaduras, deitado de barriga para baixo, com um médico ou enfermeiro militar, a perguntarem como me sentia. Respondi que me sentia bem, com algumas dores claro. No entanto, a única coisa que de imediato tive plena consciência é de que estava vivo.

Fui evacuado de helicóptero para Mueda e de seguida para o Hospital militar de Nampula, onde estive mais de um mês.

Entretanto, para os helicópteros da Força Aérea, poderem aterrar com segurança e levar-me para Mueda, juntamente com outros feridos, os militares comandos do Grupo A, tiveram primeiro que desbravar o mato, cortando árvores de pequeno porte , fazendo uma clareira junto à Base Ngungunhane.

Em Mueda, antes de entrar num avião militar Nor-Atlas , com destino ao Hospital de Nampula, fizeram-me na enfermaria um novo exame, principalmente ao dedo partido da minha mão esquerda , tendo um enfermeiro tirado as ligaduras que trazia da base.
Fiquei totalmente transtornado quando verifiquei que o dedo estava partido na segunda articulação e, só um pouco de carne e de pele, uniam as duas partes. Um médico militar muito jovem, pegou na minha mão e muito friamente, perguntou-me se eu queria que cortasse aquela parte do dedo! Olhei para ele com ar aterrorizado, não só pela situação do meu dedo mas, também , pela pergunta fria e desinteressada do médico. Respondi-lhe de imediato e sem pestanejar, que não queria que me cortasse o dedo. Roguei para ele tentar unir e cozer com fio e assim unir as duas partes do dedo. Então o médico militar fez o que lhe solicitei.

Em Nampula foi corrigida a posição do dedo, circulação sanguínea , nervo, etc.
Até hoje tenho o dedo inteiro, apesar do mesmo não ter a articulação central.

Mais tarde, fiz um balanço e refleti sobre o trabalho desenvolvido pelos militares comandos do Grupo A de comandados e pelo então jovem Capitão Carlos Matos Gomes. Conclui que, apesar de todos os contratempos de percurso havidos naquela missão, eu não tinha razão, quando no início conhecera o Capitão Matos Gomes e conjetura a sua idade à falta de experiência.
Durante os dias que estive em missão com o Grupo A, verifiquei que o Jovem Capitão tinha uma maturidade e acalmia que não refletiam em nada a sua idade.

Não posso deixar de prestar aqui a minha homenagem ao meu amigo de infância, que foi finalista comigo na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque em Lourenço Marques em 1965/66 , DAVID BARBOSA CALRÃO , Alferes Miliciano , que  faleceu naquela operação, numa missão idêntica a outra Base no Planalto dos Macondes.

Também dirijo aqui a minha homenagem ao JOSE ARRUDA,  ferido naquela Operação Nó-Górdio em 1970. Infelizmente não pode hoje ler esta mensagem, por ter ficado totalmente cego, pela areia projetada por uma explosão de mina e, também, sem uma das mãos, por estilhaços dessa mesma explosão.

  José Arruda em audiência com o Sr. Procurador Geral da República
                                        
O ARRUDA hoje é o presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas em Lisboa.

Outros meus amigos e colegas da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques ( Maputo), e Instituto Industrial, também faleceram naquela guerra que, certamente todos lamentamos ter acontecido.

FUI O ÚNICO FOTO-CINE FERIDO EM MISSÂO, DE TODOS OS DESTACAMENTOS Foto-Cine dos SCE.
Foi esta a informação que tive do comando Foto-Cine em Nampula.

No início tinha certa relutância em servir o exército português, já acima comentado, no entanto, ser Foto-Cine do exército, que me permitia  aprofundar os meus conhecimentos de cinema  e, trabalhar em cinema no exército, e livrava-me pelo menos de utilizar uma arma de guerra ,no entanto esse facto, não me livrou de todo, de participar naquela guerra e ser ferido na operação Nó-Gordio, ao serviço dos SCE como repórter de guerra. Mesmo assim, contribui  para deixar uma reportagem cinematográfica e fotográfica, que hoje serve aos dois lados, que eram inimigos à quarenta anos, como um documento que fará parte da história , tal como Joaquim Furtado demonstrou no seu trabalho para a RTP em 2010 , com o título " A Guerra ", o qual utilizou imagens de colegas meus foto-cines e minhas também, aquando da tomada da base Ngungunlhane, no seu 20º Episódio.

Regressei a Porto Amélia ( Pemba).

Em Agosto / Setembro de 1971 fui desmobilizado e fiquei em Moçambique. Primeiro em Porto Amélia (PEMBA) depois fui para Lourenço Marques(Maputo) e, os meus colegas do destacamento Foto-cine 2162 , foram para Lisboa de Navio.

Em Porto Amélia fui repórter fotográfico (foto-jornalismo) de vários jornais , principalmente do Noticias da Beira e Maputo, através do meu saudoso amigo de Porto Amélia (Pemba) que me convidou para o cargo, JAIME FERRAZ GABÃO, que era correspondente daqueles jornais na altura (1969/71).
Através do Jaime Gabão, conheci muita gente da vida social de Porto Amélia (Pemba).

Conheci o Tito Xavier, se me recordo era comandante da PSP em Porto Amélia  em 1970. Era uma pessoa muito comunicativa . Certo dia realizou-se um Rally Paper e o Tito Xavier mais a sua jovem esposa e o seu automóvel de então um Ford Capri, entraram na competição. Fiz algumas fotografias do acontecimento para o Jornal de Ferráz Gabão, sendo uma delas a que mostro a seguir.

Rally Paper 1970 em PA(Pemba) . Ford Capri de Tito Xavier e sua esposa.
(imagem de F. Brum Morgado)
Uma exposição de Yara em 1969. (Imagem de F. Brum Morgado)
 Isabel Maria  Januário  - (Belinha). Pintura de Amaral Russo
(imagem de F.Brum Morgado)
                                                  
Presto aqui a minha homenagem pessoal a Jaime Gabão, falecido em Peso da Régua. 

Jaime Ferráz Gabão
     
 Da esquerda para a direita: Jaime Gabão em segundo lugar e eu em terceiro, num almoço entre amigos em P.A-Pemba , em 1970.
     
Fernando Brum Morgado, no almoço acima
                                                                   
Livre trânsito de repórter em PA -Pemba,
para o Diário Notícias e Revista a Nova de LM

Fiz também muitas fotografias de casamentos, batizados, aniversários etc., aproveitando a oportunidade que tive de ser bastante conhecido na cidade de Porto Amélia, hoje Pemba.

Também foi graças à Matilde Januário, que na altura era responsável pela Conservatória do Registo Civil, que comecei a ser solicitado para fazer  fotografias de casamentos e batizados. Fomos grandes amigos e dos seus dois filhos também- o Necas e a Belinha . Tenho uma grande e eterna amizade de gratidão por todos eles .

Tenho grandes e boas recordações da Cidade que hoje se chama PEMBA e, da terceira maior baía do Mundo ( Baía de Pemba).

Nesta bela cidade fiz muitos amigos mas, muitos dos quais infelizmente já não me recordo os seus nomes. Nesta foto, dois amigos já não estão entre nós.

    Alguns amigos de PA-Pemba de 1969/71. da direita para a esquerda,
 na segunda posição , Matilde Januário. (imagem de F.Brum Morgado)
                                      
Um dos amigos que tive a felicidade de conhecer também (que hoje é conhecido do público Português), quando este tinha apenas 14 anos, foi ARTUR ALBARRAN , que na altura já era locutor da rádio local, junto com a Matilde Januário.

 Eu à direita, o Artur Albarran ao centro com 14 anos de idade e um amigo de ambos,
no Paquitequete em PA-Pemba 1970

Tenho muitas recordações do Café Restaurante Pólo Sul, de onde se via praticamente toda a imensa Baía e a baixa da cidade de Porto Amélia.
 
Saí de Porto Amélia ( Pemba) com muita mágoa de deixar aquela cidade, onde fiz mais amigos em dois anos do que em toda a minha vida em Lourenço Marques ( Maputo), de modo que, apenas me despedi de alguns amigos, porque não tive coragem de me despedir de todos. Certamente iria me emocionar e seria mais penoso para mim. Então preferi e tomei a decisão de não me despedir de todos os meus amigos de Porto Amélia ( Pemba), os quais mereciam essa atenção da minha parte mas, levei todos no meu pensamento e coração.

Saúdo todos os foto-cines do meu curso de 1969 dos Serviços Cartográficos do Exercito em Lisboa, cujo responsável na altura era o Major BAPTISTA ROSA , já falecido infelizmente e, também, a todos os Foto-cines que passaram pelos Serviços Cartográficos do Exército.

.


FIM DO CAPÍTULO  I - Moçambique 1953/1971.

Continua no CAPÍTULO II - Moçambique 1973/1976.

Os meus agradecimentos pela leitura deste Blog CAPÍTULO I.

Fernando Brum Morgado

2 comentários:

  1. Bom dia!

    Fico muito feliz por saber que meu pai fez parte da FRENTE DE LIBERTACAO NACIONAL DE MOCAMBIQUE,mas noa so podemos olhar para os sobrviventes mas sim tambem recordare das pessoas que ja nao tam entre nos mas bem acredito que o president da Republica de Mocambique Armandio Emilio Gebuza nao devia esquecer os antigos combatentes e devia nomear outra posicao ou patentear.

    ResponderEliminar
  2. Eu fico muito feliz por saber que meu pai papartecipo na FRENTE DE LIBERTACAO NACIONAL DE MOCAMBIQUE,mas e muito triste nao lenbrarem dos antigos combatentes!

    NB:"PRESIDENTE DA REPUBLICA DE MOCAMBIQUE VAMOS LA VALORIZAR OS ANTIGOS COMBATENTES DANDO NOVO CARGO OU NOVO PATENTEAMENTE ACREDITO QUE TENENTE-CORONEL DESDE 1975 ATE HOJE E JUSTO DARE UM NOVO PATENTEAMENTO DE GENERAL"

    ResponderEliminar

Translate